Miu Miu Inverno 2025: O Sutiã Ganha Novo Significado

No último dia da Semana de Moda de Paris, Miuccia Prada provou, mais uma vez, que a Miu Miu é muito mais do que uma “irmã mais nova” da Prada – é um espaço de experimentação, provocação e, acima de tudo, questionamento sobre o que significa ser feminina. Para o inverno 2025, a designer resgata um dos acessórios mais controversos da moda, o sutiã, para ressignificá-lo na passarela.

O item, que já foi símbolo de libertação e opressão ao longo da história, aparece agora de forma híbrida. Ele não está ali para cumprir sua função tradicional, mas para ser visto, destacado, deslocado. Nas blusas finas, ele surge estruturado, com formato cônico, remetendo ao icônico look dos anos 1950. Sob vestidos, ganha um novo papel ao ser usado por cima, com alças soltas e decotes deslocados. O conceito se expande para casacos de lã e couro, que trazem recortes arredondados na altura dos seios, enfatizando a presença do corpo feminino sem disfarces.

Miuccia não foge de polêmicas. Em um comunicado oficial, refletiu sobre os códigos de feminilidade impostos pela moda ao longo das décadas: “Esses acessórios – sutiãs, estolas e broches – são coisas que as mulheres sempre tiveram. Mas por quê? Eles ainda fazem sentido hoje? Nos fortalecem ou nos limitam?”

O desfile não propõe respostas definitivas, mas oferece um novo olhar para o ordinário. Em meio a sutiãs subvertidos, o essencial se destaca: saias de seda ajustadas ao corpo, regatas caneladas e casacos de lã escovada, trazendo um toque de aconchego. O glamour vem nos detalhes: broches dourados fixados em pontos inusitados e estolas de pele fake que, ao invés de cobrir os ombros, são carregadas nos braços como acessórios desconstruídos.

Outro ponto alto da coleção foi a escolha do casting. Modelos de diferentes idades e estilos dividiram a passarela, refletindo uma Miu Miu mais inclusiva e menos presa a um único estereótipo de feminilidade. Entre os destaques, a atriz Sarah Paulson e a rapper trans Cortisa Star desfilaram ao lado de homens mais velhos, reforçando que a moda da Miu Miu agora dialoga com todos.

O icônico “geek chic” da marca continua presente, mas agora amadurecido. Meias bordadas, combinações inesperadas de cores e casacos pesados com golas volumosas trazem o DNA característico da grife, mas com um frescor sofisticado. Depois de temporadas apostando em sensualidade óbvia – com minissaias e barrigas de fora – Miuccia parece focar na complexidade e profundidade da mulher contemporânea.

Mais do que apenas uma coleção de inverno, a Miu Miu trouxe uma reflexão sobre a roupa e seu impacto na identidade feminina. E se a moda tem o poder de ressignificar símbolos, este desfile prova que o sutiã, um dos maiores ícones de feminilidade, ainda tem muito a dizer.